13/05/2012
Dom Nelson Francelino - Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro
Quando
começou a devoção mariana? A pergunta é legítima. E a resposta é imediata e
segura: a devoção à Maria começou com o próprio cristianismo. Observemos os
fatos. Entremos na pequena Casa de Nazaré, a casa das nossas origens e das
nossas primeiras memórias. Eis o que encontramos: o Anjo Gabriel, mandado por
Deus, aparece à Maria e lhe diz: “Salve, ó cheia de graça, o Senhor está
contigo!”
(Lc 1, 28).
Com
estas palavras que vêm do Céu começa a devoção mariana. Quem pode negar a
evidência deste fato? E quando Maria, única guardiã do anúncio do Anjo, se
apresenta à Isabel, depois da longa viagem da Galileia até a Judeia, acontece
outro fato singular. Isabel ouve a saudação de Maria e percebe que o menino
‘salta’ de alegria no seio, enquanto o Espírito Santo a atravessa e lhe sugere
palavras de rara beleza e de surpreendente compromisso: “Bendita és tu entre as
mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. E que venha a mim a mãe do meu
Senhor? Pois logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou
de alegria no meu seio. Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo
o que foi dito da parte do Senhor” (Lc 1, 42-45). É a segunda expressão de
devoção mariana registrada no Evangelho.
Vamos
até a narração do Natal. O Evangelho de Lucas refere: “Quando os anjos se
afastaram deles em direção ao Céu, os pastores disseram uns aos outros: “Vamos
a Belém ver o que aconteceu e o que o Senhor nos deu a conhecer”. Foram
apressadamente e encontraram Maria, José e o menino deitado na manjedoura” (Lc
2, 15-16). Imaginemos que os pastores, após terem ajoelhado diante do Menino,
tenham lançado a seguir um olhar à Mãe e tenham sussurrado alguma palavra. Não
é legítimo pensar que os pastores tenham exclamado: “Feliz és tu, Mãe deste
Menino?!” Era uma expressão de devoção mariana.
Passemos
ao evangelista Mateus, que narra a chegada dos Magos em Belém e usa estas
palavras textuais: “E a estrela que tinham visto no Oriente ia diante deles,
até que, chegando ao lugar onde estava o menino, parou. Ao ver a estrela,
sentiram imensa alegria; e, entrando na casa, viram o menino com Maria, sua
mãe. Prostrando-se, adoraram-No” (Mt 2, 9-11).
Podemos,
sem muito esforço, imaginar a grande emoção dos Magos, os quais, após uma longa
e aventurosa viagem, tiveram a alegria de ver o Menino tão esperado e desejado!
Porém, não nos afastamos da verdade dos fatos, se imaginarmos também que os
Magos, depois da adoração do Menino, tenham olhado para Maria e lhe dirigido
palavras de admiração: também esta é devoção mariana, percebida nas entrelinhas
do Evangelho!
Nas
bodas de Caná. Conhecemos toda a encantadora história da festa das bodas, na
qual Maria intervém, ao mesmo tempo com delicadeza e decisão, para salvar a
alegria dos noivos. Os servos, que conheciam o exato suceder-se dos fatos
certamente aproximaram-se de Maria e disseram: “Jesus escutou-te! Fala-lhe de
nós e pede uma bênção para as nossas famílias!”. Também estas eram autênticas
flores de devoção mariana. E os noivos não retomariam com Maria o discurso das
bodas e da água transformada em vinho? Certamente teriam dito a Maria:
“Obrigado! A tua intervenção salvou a nossa festa. Continua a orar por nós!”
Assim
começa a devoção mariana. E continua nos séculos sem interrupção. A verdade
histórica é: Maria, a partir das palavras empenhadas pronunciadas pelo Anjo
Gabriel, foi imediatamente olhada com admiração. E logo a sua intercessão foi
invocada por motivo do seu particular vínculo com Cristo: o vínculo da
maternidade! Portanto, quando recorrermos à Maria para a invocar com filial
confiança, não nos encontraremos fora do Evangelho, mas totalmente dentro dele.
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